Paddington em boa companhia, à descoberta da cidade de Londres


joao lopes
15 Mar 2015 12:28

Para o melhor ou para o pior — quer dizer: através de títulos que podem ir do "muito bom" ao "muito mau" —, a imagem corrente do "filme-para-toda-a-família" continua a ser dominada pelas marcas made in USA e pelos seus "blockbusters". E tanto mais quanto é dessa origem que provém o marketing mais agressivo e omnipresente.

Pois bem, mesmo sem menosprezar as maravilhas que, ao longo dos anos, têm chegado do outro lado do Atlântico, vale a pena mostrar alguma disponibilidade para o que, nesse domínio, se vai fazendo na Europa (contrariando também a visão maniqueísta não poucas vezes favorecida pelos mais preguiçosos discursos jornalísticos). Como? Descobrindo a contagiante alegria e a sofisticada criatividade de "Paddington".

Com uma notável realização de Paul King (nome até agora pouco conhecido, ligado sobretudo à produção televisiva), esta é uma delicada revisitação da figura do urso Paddington, saído dos livros de Michael Bond. O seu drama: encontrar em Londres um lugar para viver, prometido à sua família, em tempos remotos, por um explorador da floresta distante do Peru…
"Paddington" começa por ser uma aventura eminentemente bem escrita: de forma sugestiva, os cartazes do filme falam de um "pequeno urso" e uma "grande aventura". A sua odisseia é vivida através de uma concepção da acção e respectivos cenários que, afinal, nos remete em linha directa para a sofisticação do trabalho de estúdio made in Britain — será preciso recordar que essa é uma tradição que vai desde a dupla genial Michael Powell/Emeric Pressburger até aos filmes de James Bond?
O conceito de parábola moral — como encontrar o seu lugar na comunidade? —, inerente a qualquer narrativa deste género, encontra a sua adequada materialização numa galeria de personagens muitíssimo bem servida por um elenco exemplar. Mais do que isso: sem que qualquer uma seja submetida aos desígnios dos muitos e muito elaborados efeitos especiais.
Assim, por exemplo, o pai e a mãe da família que acolhe Paddington são interpretados, respectivamente, por Hugh Bonneville (da série "Downton Abbey") e Sally Hawkins (que conhecemos de filmes de Mike Leigh e Woody Allen), enquanto Nicole Kidman assume, com sábia contenção, a personagem de Millicent, a "má-da-fita" que quer… embalsamar Paddington — isto, claro, sem esquecer o trabalho discreto e subtil de Ben Whishaw, dando voz ao pequeno urso.
Enfim, estamos perante um espectáculo que associa uma companhia britânica (Heyday Films, ligada à série "Harry Potter") com uma entidade de raiz francesa (Studio Canal). Além do mais, mesmo não esquecendo que o talento dos filmes não se mede em dólares, vale a pena contrariar uma certa (falta de) lógica informativa que apenas dá atenção aos números das produções de estúdios americanos. Que é como quem diz: tendo custado apenas 55 milhões de dólares (valor baixo para produtos desta dimensão), "Paddington" já acumulou, no mercado global, cerca de 250 milhões de receitas.

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