crítica
Um sintoma da crise dos mercados
"O Atirador" não passa de uma variação medíocre sobre as regras do "thriller" — a única verdadeira surpresa resulta do facto de, no seu elenco, depararmos com os nomes de Sean Penn, Javier Bardem e Jasmine Trinca...

joao lopes
21 Mar 2015 16:14
Realizado por Pierre Morel, "O Atirador" (título original: "The Gunman") é a história de um mercenário, especializado em acções de sniper. Em tempos, participou numa missão em África, assassinando um membro do governo da República Popular do Congo. Depois de alguns anos a viver mais ou menos escondido, regressa ao Congo, enfrentando as consequências violentas do seu acto…
Que acontece, afinal? Em boa verdade, nada a não ser a monótona reedição das convenções de um certo cinema de (in)acção, mais ou menos devedor das regras do thriller, em que qualquer hipótese de construção de um argumento ou qualquer definição de personagens são rapidamente secundarizadas, dando lugar a uma antologia de cenas mais ou menos aceleradas e barulhentas, sem a mínima consistência narrativa…
Dito de outro modo: provavelmente, nem sequer estaríamos aqui a assinalar a estreia de "O Atirador", não se desse o caso de o seu elenco envolver nomes como Sean Penn, Javier Bardem e Jasmine Trinca (a actriz italiana que descobrimos, em 2001, em "O Quarto do Filho", de Nanni Moretti). De facto, a presença de tais talentos desafia o mais rudimentar bom senso — quando actores deste nível se apresentam a liderar tamanha mediocridade, é natural que os mercados cinematográficos estejam em crise…
… e repare-se: não se trata de dizer que "O Atirador" vai fazer "bem" ou vai fazer "mal" nas bilheteiras de todo o mundo — deixemos esse problema para as contabilidades dos produtores. Trata-se apenas de sublinhar que tamanha degradação de padrões (comerciais, antes de tudo o mais) vai corroendo a estabilidade de qualquer modelo ou impulso de consumo.
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