joao lopes
4 Dez 2015 22:13
No panorama global dos desenhos animados, sabemos do muito talento (e também do enorme poder económico) que está envolvido em marcas como a Disney ou Pixar, Apesar disso, ou precisamente por causa disso, vale a pena mantermos o olhar disponível e reconhecer que o campo da animação está longe de se esgotar nos títulos que ostentam aquelas chancelas (pertencendo a Pixar, desde 2006, ao império Disney).
A nova versão de "O Principezinho" (apresentada extra-competição em Cannes/2015) surge como um belíssimo exemplo de um modelo animação que, embora integrando o digital, propõe um desvio pleno de consequências narrativas e dramáticas.
Em boa verdade, este é um objecto "dividido" em dois registos de animação — um mais corrente, digital, precisamente, para figurar a vida da menina que ocupa o centro da história; outro assumidamente primitivo, valorizando o desenho tradicional e as técnicas do stop-motion.
Quer isto dizer que a herança temática e simbólica do livro encantado de Antoine de Saint-Exupéry (cuja primeira edição data de 1943) se apresenta recriada através de um dispositivo que não se esgota em qualquer atitude banalmente "ilustrativa". Trata-se, afinal, de definir uma experiência em que a monotonia de um quotidiano gerido por regras pouco humanas se desagrega face à alegria criativa do mundo das aventuras e fábulas.
Produção de origem francesa, originalmente concebida em duas versões (francesa e inglesa), o filme realizado por Mark Osborne (americano que dirigiu, por exemplo, "O Panda do Kung Fu", em 2008) distingue-se como um evento realmente invulgar nesta quadra natalícia — pelas suas qualidades intrínsecas, e também porque nos leva a relativizar, repensar e reavaliar os padrões dominantes do cinema de animação.