joao lopes
3 Out 2015 0:16
Será que "O Estagiário" vai deixar uma marca de excepção na história da comédia? Em boa verdade, tal não parece possível: estamos perante um filme de evidentes competências profissionais — a começar pela dupla de protagonistas, Robert De Niro/Anne Hathaway —, mas cuja dimensão não excede o cumprimento estrito das qualidades tradicionais do género.
É essa "normalidade" que justifica a nossa simpatia, já que, por desconcertante paradoxo, nos tempos que correm, este será tudo menos um filme "normal". Desde logo, porque nada tem a ver com aventuras mais ou menos intergalácticas sustentadas pelos célebres efeitos especiais… Depois, porque há nele um gosto da caracterização social que foi apanágio do classicismo de Hollywood e que, hoje em dia, surge frequentemente desvalorizado pelos mais diversos preconceitos.
Na sua dupla função de argumentista e realizadora, Nancy Meyers mostra-se particularmente empenhada em conferir algum realismo às suas personagens. A história do velho estagiário (De Niro) que tenta a sua integração na empresa de roupas de uma jovem de sucesso (Hathaway) aposta, assim, num retrato das diferenças geracionais que está para além da caricatura, arriscando trabalhar um mínimo de complexidade psicológica.
O diálogo dos dois actores principais constitui o trunfo maior de "O Estagiário", até porque, mesmo numa história sem grandes convulsões emocionais, De Niro e Hathaway sabem criar a sensação de uma certa vulnerabilidade que, no limite, nos leva a supor que alguns momentos resultam de inspirada improvisação — eis um filme à moda antiga, por certo nostálgico, mas capaz de olhar para sinais do nosso presente.