joao lopes
31 Out 2014 23:12
Será que a vida de um estrangeiro num determinado país europeu se pode reduzir a… comer, dormir e morrer?
"Comer Dormir Morrer", primeira longa-metragem da cineasta sueca Gabriela Pichler, não responde afirmativamente a tal pergunta, evitando qualquer generalização fácil. Mas é um facto que lança a hipótese de a questão poder fazer sentido, sobretudo face a um sistema de "protecção" dos emigrantes que, em última instância, os reduz a estatísticas sem espessura humana.
Mais concretamente, o filme segue a trajectória dramática de Rasa — interpretada pela brilhante Nermina Lukac —, uma jovem do Montenegro que trabalha na Suécia, numa fábrica de embalagem de alimentos, tomando conta do seu pai com crescentes problemas de saúde. Quando é arrastada numa vaga de despedimentos, Rasa vai conhecer a frieza de um sistema que, na prática, ignora as singularidades da existência de cada cidadão.
"Comer Dormir Morrer" poderia ser um objecto panfletário, reduzindo cada personagem ou cena a símbolo maniqueísta de uma situação inevitavelmente complexa. O certo é Gabriela Pichler sabe manter um tom de realismo, austero e contundente, que não menospreza o perfil psicológico da cada indivíduo. Em resumo: uma boa surpresa que revela uma cineasta cuja trajectória valerá a pena seguir.