Uma comédia que evoca tempos atribulados da governação de Margaret Thatcher


joao lopes
7 Nov 2014 2:19

Muitas vezes aqui o referimos, mas vale a pena repeti-lo: a tradição realista do cinema britânico possui uma lógica e uma energia que lhe vão conferindo uma renovada actualidade. Por vezes, a pretexto dos factos mais insólitos ou inesperados.

É isso mesmo que acontece em "Orgulho", o filme de Matthew Warchus que evoca uma conjuntura muito especial. A saber: a luta pelo direito à diferença de uma associação de gays e lésbicas, em pleno consulado de Margaret Thatcher, e a sua aliança com os mineiros que, em 1984/45, tentavam contrariar a política que estava a conduzir ao fecho de muitas minas.

O efeito realista da evocação é tanto mais contagiante quanto estamos perante uma genuína comédia social, explorando com subtil distanciação as atribulações de tão improvável aliança. Trata-se, afinal, de colocar em cena um duplo processo político: por um lado, gays e lésbicas procuram uma visibilidade social que contrarie a "marginalidade" do seu discurso; por outro lado, mesmo com algumas resistências (que o filme não ilude), os mineiros queriam também alargar a sua base de apoio e conseguir a maior ressonância social.
O irresistível humor das situações passa, como sempre, neste tipo de produções britânicas, por um leque de talentosos actores — vale a pena citar, por exemplo, os veteranos Bill Nighy e Imelda Staunton, a par de Paddy Considine, Dominic West e Andrew Scott. Este é, afinal, um cinema fascinado pela pluralidade humana, nessa medida afirmando também a mais visceral crença humanista.

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