Jennifer Lawrence, musa do cinema de David O. Russell


joao lopes
8 Jan 2016 2:22

O nome da personagem central do novo filme de David O. Russell confunde-se com uma sugestão de alegria. De facto, a história verídica de Joy (Joy Mangano, inventora e empreendedora no domínio dos objectos para o lar) é um paradoxo vivo: por um lado, há nela uma constante disponibilidade para acudir às atribulações da sua família, desde um cano roto no soalho do quarto da mãe até às convulsões amorosas do pai; por outro lado, esse misto de afecto e dádiva pode esconder uma solidão individual difícil de resgatar…

Talvez possamos dizer isto de outro modo: "Joy" parte da história de uma jovem mulher que começa por inventar uma esfregona revolucionária (sic), ao mesmo tempo que se vê compelida a enfrentar todo um universo de negócios e relações comerciais que, à partida, está muito para além dos requisitos acumulados com a sua experiência de vida. Ou ainda: se "Joy" é uma moderna actualização da fábula do Sonho Americano, a sua sensibilidade remete-nos para a gloriosa tradição do melodrama familiar.
Reencontramos, afinal, alguns temas viscerais do cinema de Russell, bem expressos em títulos como "The Fighter" (2010) ou "Guia para um Final Feliz" (2012). Dito de outro modo: ele é um cineasta que parte de uma visão da dinâmica familiar que se vai transfigurando numa aventura social em que cada um se descobre como peça insubstituível da sua própria comunidade. No limite, Joy é a personagem que se perde nesse processo, porventura desembocando numa forma de reencontro consigo mesma.
 
Em termos de mise en scène, tudo isto implica um elaboradíssimo trabalho com os actores, dir-se-ia oscilando da ligeireza quase burlesca do início para a a revelação de uma intensidade emocional que envolve os mais inusitados desafios (familiares e sociais). Jennifer Lawrence, no papel de Joy, volta a ser a musa do cinema de Russell, muitíssimo bem acompanhada por outro habitué, Bradley Cooper. Isto sem esquecer o brilhantismo de secundários como Robert De Niro, Diane Ladd, Virginia Madsen e Isabella Rossellini — este é também um cinema de genuína revalorização dos actores.

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