3 Dez 2021 23:22
Doze actrizes para interpretar cinco personagens — eis a curiosa proeza de "As Irmãs Macaluso", produção italiana realizada por Emma Dante, estreada na edição de 2020 do Festival de Veneza.
Trata-se, afinal, de relançar uma dimensão visceral que pontua toda a história do cinema italiano, com inevitável destaque para o seu período clássico. Penso, por exemplo, nos exemplos modelares de Dino Risi ou Luigi Comencini, cineastas cuja segurança artesanal sempre se combinou com um sentido apurado das componentes psicológicas e sociais.
O que Emma Dante coloca em cena é, afinal, a desencantada acumulação do tempo, o seu carácter implacável e irreversível. Quer isto dizer que aquela pequena tribo da cidade de Palermo funciona como um microcosmos de um tempo em que o enfraquecimento das figuras paternas (neste caso, mesmo ausentes) envolve uma inevitável reconversão da condição filial.
A afirmação de vida, a maturidade e o horizonte da morte definem, assim, as coordenadas dramáticas de um filme enraizado numa crença profunda nas potencialidades das suas intérpretes. Como se Emma Dante, ainda que elaborando uma ficção, seguisse um método de "reportagem": a câmara acompanha as cinco irmãs como quem procura essa espontaneidade paradoxal que nasce de uma cuidada elaboração narrativa — poderá dizer-se que tal dinâmica nem sempre resulta da mesma maneira, mas o risco que implica merece toda a admiração.