crítica
Vale a pena “duplicar” Freddie Mercury?
O filme sobre Freddie Mercury, "Bohemian Rhapsody", tem tanto de competência técnica como de convencionalismo dramático — e o esforço do actor Rami Malek acaba por ter algo de inglório...
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31 Out 2018 22:44
Como fazer a biografia de Freddie Mercury (1946-1991)? Ou, pelo menos, como criar uma personagem cinematográfica que envolva as memórias de Freddie Mercury?
As perguntas integram, afinal, as dúvidas expressivas de qualquer retrato biográfico no cinema. É possível confiar no saber que os espectadores possam possuir sobre a própria figura retratada. Mas isso não basta — é preciso que, no plano dramático e dramatúrgico, a personagem adquira consistência e verosimilhança, enfim, alguma forma de vida.
"Bohemian Rhapsody", sobre Freddie Mercury, precisamente, nasce da resposta mais cómoda. Porquê? Porque é uma resposta enraizada nas convenções mais preguiçosas do espaço televisivo: procura-se criar um "duplo" do retratado, de modo que a sua presença no ecrã seja recebida como sinal de um indesmentível grau de "verdade".
É bem verdade que não falta entrega e esforço no trabalho de Rami Malek, obcecado com a imitação "perfeita" de Freddie Mercury. Resta saber se acumulação dos detalhes, obviamente trabalhados com imensa atenção (dos dentes salientes à pose triunfal de palco), basta para sustentar um filme que, além do mais, se propõe traçar um retrato épico dos Queen, desde o mais radical anonimato até à condição de fenómeno global.