Daniel Radcliffe e Daniel Webber: memórias de uma fuga em tempo de apartheid


joao lopes
11 Dez 2020 20:26

Infelizmente, em termos cinematográficos, não há muito a dizer sobre "Fuga de Pretória", uma realização do inglês Francis Annan resultante de uma coprodução entre Reino Unido, Austrália, EUA e África do Sul. O que não invalida que reconheçamos nos factos nele evocados um inquestionável valor simbólico: esta é a história de dois activistas políticos — Tim Jenkin (Daniel Radcliffe) e Stephen Lee (Daniel Webber) — que, no ano de 1979, em pleno apartheid, na África do Sul, conseguem fugir da prisão…

Como bem sabemos, há toda uma tradição do "filme-de-prisão" que tem pontuado a história do cinema. Lembremos apenas dois títulos "clássicos" sobre fugas de estabelcimentos prisionais: o primeiro, "O Presidiário", tem data de 1967, foi dirigido por Stuart Rosenberg e valeu a Paul Newman uma nomeação para o Oscar de melhor actor; o segundo, "Os Fugitivos de Alcatraz", produzido em 1979, tem Clint Eastwood como protagonista e realização de Don Siegel, um dos mais talentosos artesãos da produção clássica de série B.




Mas a tradição, aqui, pesa pouco. Mesmo não esquecendo o enquadramento político (tendo por base a memória de Tim Jenkin, "Escape from Pretoria"), estamos perante uma variação convencional sobre aquele modelo que, a pouco e pouco, vai secundarizando o pano de fundo histórico. Mais do que isso, as variações dramáticas sobre a situação têm tanto de competência técnica como de convencionalismo narrativo.

Os actores bem se esforçam por emprestar alguma consistência às suas personagens, mas não é fácil consegui-lo, sobretudo quando as peripécias da fuga (sobretudo a fabricação de várias chaves de madeira…) são tratadas como curiosidades de um "suspense" francamente esquemático. Ian Hart, um versátil actor inglês, intérprete de um dos prisioneiros que ajuda a montar o plano de fuga, é a excepção que confirma a regra.

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