Ryan O'Neal na personagem de Barry Lyndon — um clássico é um clássico


joao lopes
28 Jul 2016 2:20

É uma reposição, mas possui o valor de uma estreia — uma grande e esplendorosa estreia! Lançado há 40 anos, "Barry Lyndon", de Stanley Kubrick, está de volta ao mercado cinematográfico português em cópia digital restaurada. Para além de este ser mais um exemplo da (re)valorização dos clássicos em reposição, vale a pena acrescentar que se trata de um evento que ocorre em paralelo com o regresso do filme às salas britânicas (sob a égide do British Film Institute).

Surge na filmografia de Kubrick depois de "Laranja Mecânica" (1971) e antes de "Shining" (1980). "Barry Lyndon" pode começar por descrever-se como um retorno ao épico histórico, tendo como base o romance de William Makepeace Thackeray (publicado em 1844) sobre a perversa ascensão de um irlandês (interpretado pelo magnífico Ryan O’Neal) no seio da aristocracia inglesa, em meados do séc. XVIII.

O menos que se pode dizer do trabalho de direcção de Kubrick é que ele recusa, ponto por ponto, os clichés do género "histórico". Toda a encenação da época — célebre pelo seu pormenorizado requinte, em particular na fotografia do admirável John Alcott — está ao serviço de uma grelha de leitura em que somos confrontados com um perverso paradoxo: a construção de um poder individual no seio de uma sociedade fortemente hierarquizada pode atrair a sua metódica e cruel desagregação pública.
Mais do que nunca, importa sublinhar a importância — estética e simbólica — da amostragem de um filme como este nas condições insubstituíveis de uma sala escura. Importa, em particular, lembrar que, ignorando essas condições, a proliferação de "bocados" de filmes através das plataformas da Net tende a banalizar todas as referências e especificidades fílmicas. Trata-se, então, de recusar o papel da Net no conhecimento do cinema? É óbvio que não… Acontece que as peculiaridades da sala escura, mais do que um aparato, definem um modo de percepção e pensamento.

+ críticas