joao lopes
22 Jun 2014 23:40
Triste mundo este em que tantos jovens adquirem alguma evidência mediática apenas porque alguém os incluiu na galeria cor-de-rosa dos "famosos" ou porque se entregam a performances públicas mais ou menos caricatas e brejeiras (por vezes, acumulando ambos os talentos…).
Num mundo assim, que se diz, que se comenta, que notícias são produzidas sobre a extraordinária carreira do canadiano Xavier Dolan, 25 anos, cineasta e criador de invulgar vitalidade?
Enfim, digamos apenas que "Tom na Quinta", quarta longa-metragem de Dolan (logo após "Laurence para Sempre", também estreada entre nós, e antes de "Mommy", revelada no recente Festival de Cannes), confirma a sua invulgar capacidade para percorrer os labirintos das relações amorosas e passionais, ao mesmo tempo desmontando as razões — não necessariamente racionais — dos seres que as protagonizam.
Na sua candura, o ponto de partida de "Tom na Quinta" é quase didáctico: Tom visita a quinta onde vive a mãe e o irmão do seu companheiro que morreu — vem acompanhar o funeral e, de alguma maneira, iniciar o trabalho de luto pela sua perda. Mas vai confrontar-se com uma primeira barreira: o irmão do falecido não quer, de modo algum, que a mãe saiba da relação que existia entre ele e Tom…
Dizer que Dolan é um retratista das relações homossexuais é, afinal, profundamente redutor. E não só porque no seu cinema proliferam as identidades sexuais. Sobretudo porque ele filma, não exactamente os géneros, mas o relativismo da(s) sua(s) diferenças. No limite, Dolan procura os desejos dos corpos e, através deles, os enigmas das almas — tarefa tanto mais íntima e perturbante quanto, para além de argumentista e realizador, ele é também o brilhante intérprete da personagem de Tom.