crítica
Zemeckis e os seus “bonecos” humanos
Nestes tempos de confinamento, "Bem-vindos a Marwen" é uma das grandes descobertas: realizado por Robert Zemeckis, a partir de uma personagem verídica, o filme de 2018 merecia ter passado pelas salas escuras.
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19 Abr 2020 17:59
Eis uma notícia curiosa e, convenhamos, desconcertante. Eis um filme protagonizado por um popular actor de comédia (também com invulgares qualidades dramáticas) como é Steve Carell. Eis um filme assinado por um dos autores de maior sucesso no plano comercial (nomeadamente, através da trilogia "Regresso ao Futuro") como é Robert Zemeckis. Enfim… eis um filme que permaneceu inédito nas salas: "Bem-vindos a Marwen" (2018).
Marwen é uma povoação fictícia situada na Bélgica, em plena Segunda Guerra Mundial. O seu criador, Mark Hogankamp, concebeu-a — com edifícios e personagens numa escala de 1/6 —, não apenas pelo gosto lúdico de inventar um mundo "alternativo", sobretudo como forma íntima de catarse. Assim, no ano 2000, Hogankamp foi barbaramente agredido num bar, depois de confessar a cinco desconhecidos que gostava de usar elementos do vestuário feminino, em especial sapatos; a agressão deixou-o em coma durante 40 dias, quase sem memórias do seu próprio passado, sendo Marwen uma experiência decisiva na lenta e paciente recuperação dessas memórias.