“Entre Olhares”: cinema português no Barreiro
O festival realiza-se de 1 a 10 de novembro e apresenta, pela primeira vez, competições de longas e curtas-metragens.
O Barreiro volta a afirmar-se como polos do cinema nacional com o regresso do “Entre Olhares”, que chega este ano à 7.ª edição. De 1 a 10 de novembro, o festival exibe 62 filmes em três espaços da cidade — o Forum Barreiro – Castello Lopes Cinemas, o Auditório Municipal Augusto Cabrita e o Cine Clube do Barreiro.
O programa passa a incluir duas secções competitivas — de longas e curtas-metragens —, a que se juntam “Curtas à Primeira Vista”, destinada a filmes de estudantes de cinema. Além das competições, o festival conserva o cariz exploratório com secções temáticas: “Olhar o Mundo” (ficção e animação), “Territórios” (documentário), “Narrativas em Contraste” (sci-fi, terror e fantasia) e “Caminhos Alternativos” (cinema experimental). Há ainda uma secção juvenil, voltada para novos públicos, e a secção indústria, onde realizadores até aos 35 anos concorrem ao programa “Novos Olhares”, de apoio à produção de curtas-metragens.
A cerimónia de entrega de prémios decorrerá a 9 de novembro na Casa da Cidadania Cabós Gonçalves, sendo exibidos no dia seguinte, no Cine Clube do Barreiro, os filmes vencedores da edição de 2025.
Entre os destaques da competição de longas-metragens encontra-se “A Memória do Cheiro das Coisas”, de António Ferreira, sobre o envelhecimento, o racismo e os ecos da guerra colonial. O filme, que valeu a José Martins o prémio de melhor ator no Festival de Xangai, retrata a relação entre Arménio, ex-combatente, e Hermínia, a sua cuidadora.
Segue-se “Somos Dois Abismos”, de Kopal Joshy, uma história introspetiva sobre o luto e a amizade improvável entre um homem e uma cineasta. “Filhos do Meio – Hip Hop à Margem”, de Luís Almeida, revisita as raízes do rap em Almada e Miratejo, enquanto “C’est Pas La Vie En Rose”, de Leonor Bettencourt Loureiro, oferece uma sátira mordaz à Lisboa gentrificada num falso documentário de tom provocador. Encerrando a secção, “Explode São Paulo, Gil”, de Maria Clara Escobar, mistura ficção e documentário para dar voz a uma empregada doméstica e cantora invisibilizada, revelando as contradições da arte e da precariedade.
A secção de curtas-metragens apresenta um conjunto diversificado de obras que exploram identidade, memória, imigração e resistência. Entre elas, “Quem se Move”, de Stephanie Ricci, estreada em Roterdão; “Rezbotanik”, de Pedro Gonçalves Ribeiro, exibida no Cinéma du Réel; “Tapete Voador”, de Justin Amorim, sobre um caso real de pedofilia institucional; e “Sabura”, de Falcão Nhaga, um retrato de amor e deslocação entre Lisboa e a Guiné-Bissau.
“Rui Carlos”, de Margarida Paias, oferece uma evocação da infância nos anos 80, enquanto “Antígona, ou a História de Sara Benoliel”, de Francisco Mira Godinho, aborda o luto num contexto cabo-verdiano durante a pandemia. “Pássaro Azul”, de Miguel Munhá, transforma a ansiedade em matéria cinematográfica, numa carta poética aos antepassados após a sua estreia no Festival de Varsóvia.
Outros títulos em competição incluem “Pietra”, de Cynthia Levitan; “Canto”, de Guilherme Daniel; “Francisco Perdido”, de Frederico Mesquita; “Atom & Void”, de Gonçalo Almeida; “Foi com o Mar”, de Matilde César; “Histórias de Contrabandistas”, de Agnes Meng; “Lina”, de Margarida Madeira; “Tem Fé”, de Helen Esther Aschauer e Leonor Patrocínio; e “Salerno-Goulette”, de Fábio Penela.
A secção dedicada a estudantes de cinema revela novas vozes da criação audiovisual portuguesa. “Pequeno País”, de Nicolau Botequilha (ESTC), estreia mundialmente no festival e aborda a relação entre pai e filho após a perda da casa. “Severin”, de Gonçalo Cabral e Ana Melo (ETIC), segue a vida de um imigrante alemão a viver numa caravana sob pressão para abandonar o local.
Entre outras presenças contam-se “Uma Mulher do Género”, de Raquel de Lima (ESMAD), centrada em três mulheres que enfrentam preconceitos profissionais; “O Pássaro de Dentro”, de Laura Anahory (Universidade Católica), exibida na secção La Cinef de Cannes, que usa animação para explorar corpo e identidade; e “Os Terríveis”, de Pika Leão (Universidade Lusófona), vencedor do Prémio Sophia de Melhor Curta de Ficção, que confronta dois irmãos com o passado familiar. Completam a seleção “Quatro em Linha”, “Turno da Noite”, “Uma Crosta de Ferro”, “Bacia das Almas”, “Retratos da Ajuda”, “Mãe da Manhã”, “Uma Mãe Vai à Praia”, “Alto da Eira” e “Golden Shower”.