Alicia Vikander, Armie Hammer e Henry Cavill — sob o signo da televisão dos anos 60

crítica

Nostalgia da televisão dos anos 60

Mais uma série mítica da televisão dos anos 60 surge adaptada ao cinema: Guy Ritchie propõe a reinvenção de "O Agente da U.N.C.L.E.", sobre a aliança insólita de dois agentes especiais, um americano, outro soviético.

As séries policiais dos anos 60 estão na moda?… Uma coisa é certa: quando assistimos ao impacto do (excelente) episódio nº 5 de "Missão Impossível", surge outra grande produção de Verão, apostada em revisitar e, de algum modo, reinventar uma série que marcou a televisão entre 1964 e 1968: "The Man from U.N.C.L.E." é agora também título de um filme realizado por Guy Ritchie (entre nós: "O Agente da U.N.C.L.E.").

O objectivo primeiro terá sido a criação de um visual capaz de evocar, não apenas a série, mas toda uma iconografia em que se cruzam temas e mitologias da década de 60. E não há dúvida que, nesse aspecto, a equipa de Ritchie se distingue por uma invulgar competência estética. Aliás, importa acrescentar que tal trabalho não se esgota nos elementos de cenografia ou guarda-roupa, já que uma das contribuições mais sofisticadas e também mais nostálgicas é, por certo, a de Daniel Pemberton, autor da banda sonora original.

De acordo com os pressupostos da matéria original, o filme concentra-se na aliança insólita de dois agentes especiais: um americano (Henry Cavill, algo decorativo, sem grande chama) e um soviético (Armie Hammer, actor tão brilhante quanto subestimado), pertencendo à filha de um muito procurado cientista alemão (Alicia Vikander) a função, também clássica, de baralhar os elementos factuais e emocionais.

Ritchie lida com todas as atribulações da Guerra Fria (a acção passa-se em 1963, pouco depois da construção do Muro de Berlim) com um misto de ligeireza e espectacularidade, aliás lembrando o tom dos seus dois filmes sobre Sherlock Holmes (lançados em 2009 e 2011). É pena que, tal como nesses filmes, uma certa exuberância das acções físicas nem sempre favoreça as singularidades das personagens. Seja como for, "O Agente da U.N.C.L.E." deixa uma curiosa perspectiva em aberto: a possibilidade de consolidação de um universo cinematográfico sensível ao humor e ao kitsch da inspiração televisiva.