Julianne Moore e Oakles Fegley — para além do cinema


joao lopes
23 Mar 2018 22:05

Que esperar de Todd Haynes? Pois bem, apetece ser ingenuamente contraditório e dizer que dele podemos sempre esperar o… inesperado. De tal modo que quando o seu filme "Wonderstruck" passou em Cannes/2017, convenhamos que quase ninguém (a começar pelo autor deste texto) sabia muito bem o que dizer.

Sublinhemos, por isso, que este é um filme — agora lançado entre nós como "Wonderstruck: O Museu das Maravilhas" — que se define como exterior a qualquer género corrente de espectáculo. É por aí que começa a sua estranheza. E também o seu fascínio. Trata-se, afinal, de contar uma história que liga uma menina (Millicent Simmonds) e um menino (Oakes Fegley), separados e unidos por meio século (de 1927 a 1977): ambos surdos, a sua existência vai cruzar-se nos deslumbrantes cenários do Museu de História Natural, em Nova Iorque.
Digamos apenas (evitando revelar os enigmas da própria história) que a surdez das duas crianças nos projecta num universo de factos e sensações em que prevalece uma peculiar musicalidade interior. Nesta perspectiva, podemos mesmo considerar que Haynes terá querido "multiplicar" o efeito visual do livro homónimo de Brian Selznick em que o filme se baseia. A saber: "reproduzir" a dinâmica dos desenhos do próprio Selznick (também autor, recorde-se, de "A Invenção de Hugo", adaptado ao cinema, em 2011, por Martin Scorsese).
Tudo isto gera um efeito de magia, talvez nem sempre devidamente controlado pela montagem, mas em qualquer caso muito para além das convenções correntes do cinema "infantil" e "juvenil". Julianne Moore, num duplo papel, pode ser o símbolo de tal efeito: a actriz encarna a própria duplicidade do espectáculo, unindo o realismo das situações com o artifício dos sonhos.

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