Alicia Vikander e James McAvoy: personagens à deriva numa paisagem estrangeira


joao lopes
25 Mai 2018 16:22

São vários os títulos da filmografia de Wim Wenders em que a odisseia das personagens começa na sua condição de estranhos/estrangeiros nas paisagens em que circulam. Lembremos apenas os casos exemplares de "O Estado das Coisas" (1982), em grande parte rodado em cenários portugueses, "Até ao Fim do Mundo" (1991) ou "Terra da Abundância" (2004).

"Submersos" constitui mais um capítulo exemplar dessa deriva em que as identidades se jogam e, no limite, se destroem em lugares de contagiante estranheza. Com uma inusitada (embora não inesperada) componente romântica. Esta é a história da paixão que une uma cientista que investiga o fundo do mar na Gronelândia e um engenheiro hidráulico, na verdade membro dos serviços secretos britânicos, em missão no leste de África — ela é a sueca Alicia Vikander, ele o escocês James McAvoy.
O mínimo que se pode dizer é que raras vezes (talvez nunca…) Vikander e McAvoy se tenham exposto, assim, num tal misto de comoção e vulnerabilidade. Wenders é, de facto, um cineasta capaz de dirigir os seus actores de modo a valorizar a sugestão subtil, muito para além das explosões emocionais. No limite, esta é, de facto, uma história de amor num mundo global.
Entenda-se: a globalização não é, para Wenders, um tema tecnocrático que nos leva a celebrar a possibilidade de falarmos por telemóvel com qualquer ser humano do outro lado do planeta… O que ele encena é essa sensação, de uma só vez instantânea e perturbante, de a proliferação dos canais de comunicação ser também uma rede imensa de solidões. Filme do presente, para o presente, "Submersos" é também um espelho do que somos — e, sobretudo, do que julgamos ser.

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