joao lopes
22 Ago 2018 23:53
Eis um filme que talvez se pudesse resumir assim: se um tubarão incomoda muita gente, dois tubarões incomodam muito mais… Enfim, é uma maneira de lidar com um espectáculo marinho que, mesmo recorrendo a todos os gadgets da moda (IMAX + 3D), possui a frágil energia de um peixinho de aquário.
Digamos também que a ironia é, precisamente, um dos derradeiros recursos de sobrevivência espiritual face a um objecto tão medíocre como "Meg: Tubarão Gigante", epopeia de um megalodonte corajosamente enfrentado pelo heróico Jason Statham…
Poderá até dar-se o caso de Statham, o realizador Jon Turteltaub e todos os elementos da ficha técnica e artística terem rodado o filme num espírito de gozo e irrisão, não tomando a sério o que estavam a fazer… Talvez. Ainda assim, a sua boa disposição não basta para prestar um serviço minimamente interessante ao cinema.
Este argumento mal amanhado de um tubarão pré-histórico que ataca uma plataforma marítima e uma zona costeira da Ásia corresponde, afinal, à ilustração do crescente envolvimento dos estúdios americanos com a China — de um lado, a Warner, do outro a Gravity Pictures; de um lado, o já citado Statham, do outro a actriz chinesa Bingbing Li…
Será que há resquícios desse filme fabuloso que é "Tubarão" (1975), de Stven Spielberg, e também algumas variações sub-aquáticas que tentam rivalizar com a elegância de "O Abismo" (1989), de James Cameron? Sim, é verdade. O certo é que "Meg" é tão primário e, por vezes, tão desajeitado que nem sequer consegue funcionar com uma mera antologia de citações.