21 Dez 2014 20:47
A 24 de novembro, os funcionários da Sony Pictures Entertainment (SPE) encontraram os seus computadores pessoais e dispositivos móveis tomados por elementos estranhos. Um grupo auto-intitulado #GOP, iniciais de Guardians of Peace (em português, Guardiões da Paz), penetrou nas redes informáticas do estúdio norte-americano e roubou uma vasta quantidade de ficheiros da empresa.
Entre os itens retirados estavam filmes, e-mails, dados pessoais de funcionários e membros das equipas de produção de filmes e séries, balanços financeiros, um pouco de tudo aquilo que constitui a atividade diária de uma das seis maiores empresas de entretenimento da América do Norte, subsidiária da Sony japonesa.
Perante a dimensão do problema, a SPE pediu auxílio às autoridades federais. Surgiram suspeitas do envolvimento da Coreia do Norte que prostestara em relação ao teor da comédia "The Interview", onde as personagems de
Seth Rogen e James Franco participam numa conspiração da CIA para assassinar o
líder daquela ditadura comunista.
O FBI liderou a investigação e, na passada sexta-feira, confirmou oficialmente a existência de fortes indícios a ligar Pyongyang ao ataque.
O que se passou entretanto é digno de um outro filme:
– Cinco longas-metragens da Sony Pictures apareceram nos sites de torrents. "Fury", drama de guerra com Brad Pitt que chegou às salas em outubro, e quatro títulos por estrear: "Mr. Turner", "Still Alice", "To Write Love on Her Arms" e "Annie".
– Foram publicados os salários dos principais diretores e presidentes da empresa, bem como os balanços financeiros detalhados de diversas produções e os números da segurança social de milhares de pessoas ligadas à SPE.
– Os funcionários e respetivas famílias receberam ameaças dos piratas informáticos.
– Para grande embaraço dos envolvidos, foram divulgadas conversas de executivos do estúdio e de produtores com referências pouco simpáticas a alguns nomes conhecidos. Entre muitas referências pouco dignificantes, Angelina Jolie foi chamada "fedelha mimada com pouco talento", uma atitude de Leonardo di Caprio considerada "desprezível" e George Clooney foi apanhado na onda a pedir perdão pelo mau trabalho como realizador em "Caçadores de Tesouros".
Novas ameaças, que se julga serem dos mesmos indivíduos que executaram o ataque inicial – algo transversal a todo o caso é a dificuldade óbvia em verificar proveniência das declarações – levaram as maiores redes de cinemas da América do Norte a desistir da estreia de "The Interview", prevista para o dia de Natal.
O recuo foi criticado pelo presidente Obama que o vê como uma cedência aos piratas informáticos e um atentado à liberdade de expressão no país.
Agora, a situação chegou a um ponto que se assemelha a um jogo de empurrar responsabilidades. A Sony Pictures afirma que quer distribuir o filme, mas não encontra interessados, nem nas tradicionais salas de cinema, nem através das empresas de video on demand e streaming, e Hollywood mostrou-se incapaz de uma posição concertada. Nem a MPAA, que representa os estúdios, nem a NATO, que representa os donos das salas de cinema, foram capazes de elaborar uma declaração conjunta sequer.
As consequências finais de tudo isto ainda estão para vir. A Coreia do Norte nega estar envolvida no ataque. Os EUA pediram ajuda à China, mas até ao momento não receberam resposta. O ataque á Sony Pictures Entertainment é, a partir de agora, um caso político e diplomático. É todo um outro filme que se desenrola perante nós.