“Barbie”, a fantasia musical filme inspirada na famosa boneca, termina 2023 à frente da lista de sucessos de bilheteira. Lidera o box office mundial, o norte-americano (que continua a ser o maior dos mercados) e foi ainda o filme mais popular em Portugal.

Fenómeno gerado nas redes sociais a partir da coincidência nas datas de estreia, “Barbie” impulsionou também o sucesso de “Oppenheimer”, o imprevisto terceiro maior sucesso mundial.

Em segundo lugar, a animação “Super Mario Bros. O Filme” completa um pódio do box office mundial sem sequelas, algo que não se via desde 2001, quando no topo da tabela estiveram “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, “O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel” e “Monstros e Companhia”.

Este foi também um ano em que pareceu confirmar-se o declínio dos filmes de super-heróis. Dispendiosos, a precisar de grandes volumes de negócio para compensar os orçamentos inflacionados, os produtos cinematográficos da Marvel e da DC Comics esbarraram num muro de desinteresse que levou a sucessivos falhanços.

“As Marvels” e “The Flash”, cada um com um preço acima dos 200 milhões de dólares, foram desastres financeiros. O mais recente “Aquaman e o Reino Perdido” segue pelo mesmo caminho.

Outros pontos negativos afetaram as produções de Hollywood em 2023. A sétima missão impossível de Tom Cruise, o apregoado salvador da indústria no pós-COVID graças ao sucesso de “Top Gun: Maverick” em 2022, falhou os ambiciosos objetivos, tal como “Indiana Jones e o Marcador do Destino”.

A Disney, após anos de glória, enfrenta não só a provável decadência da Marvel, mas também a falta de brilho das suas longas-metragens de animação, com “Elemental” e “Wish” longe dos resultados de sucessos anteriores.

Prevê-se que o box office a nível mundial em 2023 ultrapasse os 33 mil milhões de dólares, um aumento de 27% em comparação com o ano passado. Antes da pandemia, as vendas nos cinemas a nível mundial ultrapassavam os 40 mil milhões de dólares anuais.

Nos EUA e Canadá, a estimativa da consultora ComScore também é de subida: 8,58 mil milhões de dólares, mais 20 por cento em relação a 2022, a maior receita desde a COVID. Também aqui, porém, ainda abaixo dos níveis anteriores à pandemia, quando o volume anual de negócios atingia os 10 a 11 mil milhões de dólares.

Afetado pela dupla greve de argumentistas e atores que paralisou as linhas de produção durante meses, o calendário de estreias mostrou fraquezas que se refletiram no final deste ano e que vão continuar em 2024. As primeiras previsões estimam que as receitas nos cinemas norte-americanos possam cair 11%.

No entanto, existem outros desafios. À primeira vista, parece claro que entrámos numa fase de transição. O gosto do público parece ter mudado. Os filmes que custam mais de 200 milhões são um risco cada vez maior. Não há a ajuda das receitas da China, que deixou de ser o mercado salvador de blockbusters e se virou para as produções locais, e faltam as receitas dos mercados secundários como o home video, ou a televisão, substituídos pelo streaming que tarda a gerar valor.

Os concertos filmados de grandes estreias mundiais podem ser um caminho alternativo, mas nada é garantido. Se Taylor Swift foi um retumbante sucesso, o resultado do filme-concerto de Beyoncé ficou-se pela mediania.

Os super-heróis vão continuar presentes e nem tudo correu mal nesta área. O terceiro “Guardiões da Galáxia”ainda conseguiu gerar 846 milhões de dólares contra um orçamento de 250 milhões, e Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”, chegou aos 691 milhões de dólares com um preço módico de 150 milhões. Será, sobretudo, uma questão de começar a controlar custos e apostar no desenvolvimento das histórias.

O terror continua a ser um bom negócio. Filmes a baixo custo como “Five Nights at Freddy’s O Filme”, ou “The Nun: A Freira Maldita II” ficaram perto dos 300 milhões de dólares com um orçamento de produção inferior a 40 milhões.

E depois há a questão do público adulto. Se há algo a aprender com o fenómeno “Barbenheimer” é que continua a ser possível – e desejável – apostar neste tipo de filmes.

Filmes mais vistos 2022 – Mundo (top 20)

Filmes mais vistos 2022 – EUA (top 20)

Portugal alinhou pela tendência e “Barbie” foi o filme mais visto do ano. Com cenas rodadas no norte e centro do país, “Velocidade Furiosa X” subiu a #2 diante de “Oppenheimer”, o outro título que deu um verão cheio de público às salas de cinema.

Nas contas provisórias de 2023, é provável que o total de espectadores chegue perto dos 12 milhões, 20% melhor do que no ano passado, mas longe dos 15,5 milhões de 2019, antes da pandemia.

O cinema português volta a ter falta de bons resultados. Só “Pôr do Sol: O Mistério do Colar de São Cajó” passou os 100 mil espectadores. Seguiram-se “Um Filme do Caraças”, “Mal Viver” e a curta “Ice Merchants”.

Na distribuição nota-se a subida da Cinemundo ajudada pelo bom ano da Universal e da Warner Bros. em detrimento de uma NOS a que faltaram grandes sucessos apesar da maior quantidade de lançamentos.

Filmes mais vistos 2022 – Portugal (top 20)

Filmes mais vistos 2022 – Cinema português (top 20)

• António Quintas

• 30 Dez 2023 16:07