26 Mar 2021 19:15
Realizador de muitos registos, do melodrama ao policial, passando pelo filme histórico, Bertrand Tavernier faleceu no dia 25 de março em Sainte-Maxime, na região de Var — contava 79 anos.
Lançada em 2016, a sua obra monumental "Uma Viagem pelo Cinema Francês" pode resumir o essencial da sua postura intelectual e criativa: sem ser uma adversário da Nova Vaga, a sua sensibilidade e o seu trabalho estão sobretudo ligados a uma tradição anterior que vai de Jean Renoir a Jean-Pierre Melville.
"Um Domingo no Campo" (1984), um melodrama "renoiriano", justamente, e "L’Appât" (1995), drama policial nunca estreado entre nós, terão sido os títulos da sua filmografia a obter maior projecção internacional — o primeiro valeu-lhe o prémio de realização em Cannes; o segundo recebeu o Urso de Ouro de Berlim.
A sua herança envolve uma dimensão visceralmente cinéfila. Desde logo, porque Tavernier foi também um estudioso do cinema, em especial a produção clássica dos EUA sobre a qual escreveu os dois volumes de "50 Ans de Cinéma Américain" (1991), em colaboração com Jean-Pierre Coursodon.
Além do mais, a sua filmografia pode ser encarada também como um sistemático reencontro com modelos herdados de algum tipo de classicismo. Lembremos os exemplos de:
— "O Relojoeiro" (1974), adaptação de um romance de Georges Simenon, com uma das melhores interpretações de Philippe Noiret;
— "O Juiz e o Assassino" (1976), sobre um "serial killer" da segunda metade do século XIX;
— "Justiceiro por Conta Própria" (1981), policial inspirado num romance de Jim Thompson;
— "’Round Midnight / À Volta da Meia-Noite" (1986), por alguns considerado como um dos melhores filmes sobre o mundo do jazz, com Dexter Gordon no papel central.
— "Capitão Conan" (1996), evocando um herói da Primeira Guerra Mundial;
— "A Princesa de Montpensier" (2010), fresco histórico sobre as guerras entre católicos e protestantes na França do século XVI.
— "Palácio das Necessidades" (2013), título original "Quai d’Orsay", visão cómica e desencantada dos bastidores da política francesa.
Foi também, durante alguns anos, presidente do PEN Club francês. Amigo e colaborador de Thierry Frémaux, delegado geral do Festival de Cannes, com ele colaborou no Instituto Lumière (onde, aliás, são rodadas várias sequências da sua "Viagem pelo Cinema Francês"). Nos últimos anos, no site do Instituto, a que Frémaux preside, Tavernier manteve um DVDblog.