10 Fev 2023
Carlos Saura, figura principal do cinema espanhol e europeu, realizador de cerca de 50 filmes, incluindo “Cria Corvos” e “Ai, Carmela!”, morreu sexta-feira, na sua casa perto de Madrid, aos 91 anos.
“A Academia de Cinema lamenta profundamente anunciar a morte de Carlos Saura (…), um dos cineastas fundamentais na história do cinema espanhol”, lê-se no Twitter. “O seu último filme, ‘Las paredes hablan’, foi lançado há uma semana, prova de uma incansável actividade e amor pela sua arte até aos seus últimos momentos”, acrescentou fonte da academia espanhola.
“Carlos Saura, uma figura fundamental da cultura espanhola, deixou-nos”, disse o primeiro-ministro Pedro Sanchez. “O seu talento é e será sempre parte do património cultural da nossa história graças a filmes inesquecíveis como ‘Ai, Carmela!’, ou ‘La prima Angélica’. Dizemos adeus ao realizador da imaginação, mas o seu cinema permanece”, acrescentou o líder socialista.
Artista total
Nascido a 4 de janeiro de 1932 em Huesca (no norte de Aragão) numa família de artistas, Carlos Saura deveria receber um Goya honorário amanhã, durante a cerimónia de entrega dos prémios de cinema espanhol que se realiza em Sevilha. Agora, será prestada uma homenagem “à memória de um criador insubstituível”, disse a academia.
O mundo cinematográfico espanhol, do qual Saura foi um dos grandes nomes juntamente com Luis Buñuel e Pedro Almodovar, saudou a memória de um “artista total” que “recebeu todos os prémios imagináveis durante a sua carreira”, nas palavras do ministro da cultura, Miquel Iceta.
“Com Carlos Saura, morre uma parte muito importante da história do cinema espanhol. Ele deixa para trás um trabalho indispensável para uma reflexão profunda sobre o comportamento dos seres humanos. Descansa em paz, meu amigo”, reagiu o actor Antonio Banderas.
Publicando uma foto sua quando criança ao colo do pai, a sua filha Anna Saura, fruto da união com a actriz Eulalia Ramón, escreveu: “Descansa em paz, obrigado por tudo. Amo-te para sempre”.
De “Cria cuervos” ao flamenco
Em 1975, Saura realiza “Cria Corvos” – uma alegoria à ditadura que asfixiou o país até esse ano e que ganhou o Prémio do Júri em Cannes.
Saura, que realizou perto de 50 filmes, recebeu o primeiro reconhecimento internacional em 1966, em Berlim, com um Urso de Prata por “A Caça”.
Ganhou novamente o mesmo prémio com “Peppermint frappé” dois anos mais tarde, enquanto “La cousine Angélique” recebeu o Prémio do Júri em Cannes, em 1974.
Baaseado inicialmente no realismo social, no final da carreira Saura virou-se para a música e para a dança com filmes sobre o flamenco, as sevilhanas, o tango e o fado.
Em 2016, numa entrevista à AFP, o cineasta disse que o reconhecimento no seu país só tinha vindo “com a velhice”, recordando as críticas por vezes ferozes com que os seus primeiros filmes foram recebidos. Disse mesmo que com o apoio que recebeu em Espanha, teria “feito apenas um filme”, e confessou dever muito à França, país que visitava regularmente.
Fotógrafo desde criança, o cineasta resistiu a expor o seu trabalho nesta área. “Guardei as minhas fotografias para mim, até que um amigo me convenceu a exibi-las”, confidenciou. O seu primeiro livro de fotografias só foi publicado em 2003.
Casado várias vezes, e pai de sete filhos, teve uma relação com Geraldine Chaplin, a sua musa, com quem teve um filho.