9 Jul 2021 18:14
Se quisermos ceder à tentação do cinismo, ma non troppo, diremos que em qualquer festival fica sempre bem um filme que nos venha dizer que as relações humanas estão limitadas pelas insanáveis clivagens entre gerações… Sobretudo se os protagonistas de tal drama se comportarem como se as suas privadíssimas complicações envolvessem os destinos de muitas galáxias…
Assim aconteceu em Cannes, em 2016, com "Toni Erdmann", de Maren Ade. Assim volta a acontecer este ano com "The Worst Person in the World", ou "Julie (en 12 Chapitres)". No seu centro está Julie (Renate Reinsve), à beira dos 30 anos, feliz e angustiada, infinitamente hesitante, porque encontrou Aksel (Anders Danielsen Lie), 45 anos, guiado por conhecimentos e valores que a desafiam…
O realizador é o dinamarquês Joachim Trier, de quem conhecemos, por exemplo, "Oslo, 1 de agosto" (2011) e "Thelma" (2017). Há no seu trabalho uma evidente segurança técnica, aqui e ali pontuada por algumas invenções formais mais ou menos sugestivas. Ainda assim, a fragmentação do filme (realmente dividido em 12 capítulos) mais parece um estratagema para disfarçar a ausência de um projecto realmente coerente.
Na melhor das hipóteses, alguns momentos sugerem uma possível filiação dramática no intimismo de Ingmar Bergman, eventualmente filtrado pelas variações de Woody Allen. São escolhas que só lhe ficam bem… ainda que a comparação acabe por reforçar a menoridade dos resultados.