21 Jan 2025

O realizador francês Bertrand Blier morreu na segunda-feira à noite, aos 85 anos, “tranquilamente em casa, em Paris, rodeado pela mulher e pelos filhos”, disse à AFP o seu filho Léonard Blier.

As obras deste adepto do humor negro e grosseiro, marcaram o cinema francês dos anos 1970 e 1980.

Com ar rabugento e cachimbo no canto da boca, gostava de retratar pessoas à margem da sociedade: rufias, polícias infelizes e prostitutas. Anticonformista e irreverente para uns, provocador e símbolo de uma outra época para outros, o nome de Blier estará sempre associado ao de Gérard Depardieu, cuja carreira lançou em 1974 em “As Bailarinas” (Les Valseuses), ao lado de Patrick Dewaere e Miou-Miou.

Humor negro

Filme subversivo que se tornou um êxito de culto, “As Bailarinas” é também marcado por um sentido de humor grosseiro que foi chocante na época.

A sua obra é atualmente criticada pela misoginia e pelo modo como retrata a dominação masculina. Nos últimos anos, algumas das suas actrizes, como Miou-Miou e Brigitte Fossey, contaram que, por vezes, sentiram o seu humor grave como uma humilhação, ou uma agressão.

Realizador de cerca de trinta filmes, Blier será sempre recordado como um cineasta popular, capaz de atrair três milhões de espectadores nos anos 80 com “Traje de Noite”, em que Depardieu e Miou-Miou contracenavam, desta vez, com Michel Blanc.

“Filmar é um momento maravilhoso, quando se é completamente irresponsável, quando se pensa que se é Deus e se está a rir com os amigos”, disse Blier à AFP em 2011.

A sua morte marca o fim de uma era, já que alguns dos seus amigos mais próximos e cúmplices de filmagens partiram antes dele, desde Patrick Dewaere, que se suicidou em 1982, até Michel Blanc, que morreu em outubro passado. Depardieu, entretanto, foi acusado de violação e tornou-se um pária no cinema gaulês.

Josiane Balasko, que Blier dirigiu em 1989 em “Bela Demais Para Ti”, prestou homenagem à sua memória: “Boa viagem, meu amigo. E bebe um copo de branco pelo caminho”.

“Que privilégio ter filmado para ti. Eras um chefe. Eras um amigo. Um inventor do cinema. A tua poesia, a tua audácia, as tuas palavras, os teus risos, os teus silêncios. Gostavas tanto de actores”, escreveu Jean Dujardin, que interpretou um escritor alcoólico em “Le Bruit des glaçons”, filme de 2010, protagonizado por Albert Dupontel que seria um dos últimos sucessos de Bertrand Blier.

Outras personalidades elogiaram a sua carreira, sublinhando como as suas obras estavam ancoradas noutra era.

“Bertrand Blier foi um cineasta imenso e inconformista”, declarou a Ministra da Cultura de França, Rachida Dati.

“Escritor e cineasta, cínico e provocador, moralista e blasé, Bertrand Blier amava as mulheres, mas os seus homens maltratavam-nas”, disse à AFP Gilles Jacob, um dos antigos presidentes do Festival de Cannes. “Há, nos seus filmes, descobertas espantosas, uma exposição audaciosa de certos costumes revoltantes, cenas hilariantes que beiram o absurdo e emoção também”, continuou.

“Eu adorava este homem, a forma como ele levava as situações, o desconforto e o riso (…) Levava as personagens longe (demasiado longe, dir-se-ia hoje, mas isso foi ontem). Adorava a sua voz, os seus olhos e os seus livros”, escreveu Pierre Lescure, outro antigo presidente do Festival de Cannes.

  • AFP
  • 21 Jan 2025 14:02

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