Obituário

Morreu Michael Lonsdale, actor francês premiado nos Césares

Com uma carreira de mais de duas centenas de títulos, Michael Lonsdale faleceu aos 89 anos de idade — especialista em papéis secundários, foi consagrado com um César pela sua composição em "Dos Homens e dos Deuses" (2010).

21 Set 2020 18:45

Francês de ascendência britânica, actor de multifacetada carreira em cinema e televisão, Michael Lonsdale faleceu no dia 21 de Setembro, na sua casa, em Paris — contava 89 anos.

Foi com o filme "Dos Homens e dos Deuses" (2010), de Xavier Beauvois, retrato íntimo de uma comunidade de monges com a guerra civil da Argélia em pano de fundo, que Lonsdale foi consagrado pelos seus pares, arrebatando o César de melhor actor secundário. Em todo o caso, desde "O Processo" (1962), de Orson Welles, que era um profissional de reconhecida versatilidade, em especial, justamente, na composição de personagens secundárias.

Ao longo da década de 60, embora não tendo uma presença regular nos filmes da Nova Vaga francesa, surgiu em duas composições exemplares em "A Noiva Estava de Luto" e "Beijos Roubados" [trailer], produções de 1968 dirigidas por François Truffaut.

Vimo-lo depois, por exemplo, em "Destruir, Diz Ela" (1969), de Marguerite Duras, "Sopro no Coração" (1971), de Louis Malle, ou "Out 1" (1971), de Jacques Rivette. A sua condição bilingue facilitou a entrada nos circuitos da produção anglo-saxónica, integrando os elencos de títulos como "Chacal" (1973), de Fred Zinnemann, "A Inglesa Romântica" (1975) e "Mr. Klein" (1976), ambos de Joseph Losey.

Entre os seus filmes de maior projecção comercial incluem-se "007 – Aventura no Espaço" (1979), de Lewis Gilbert, "Momentos de Glória" (1981), de Hugh Hudson, "O Nome da Rosa" (1986), de Jean-Jacques Annaud, e "Os Despojos do Dia" (1993), de James Ivory.

Sempre muito activo, entre cinema e televisão, já no século XXI surgiu em "5×2" (2004), de François Ozon, "Munique" (2005), de Steven Spielberg, "Os Fantasmas de Goya" (2006), de Milos Forman, e "O Gebo e a Sombra" (2012), derradeira longa-metragem de Manoel de Oliveira [trailer].

O seu espírito profundamente religioso reflectiu-se na sua actividade como escritor, tendo publicado uma dezena de livros. Num dos últimos, "Belle et Douce Marie" (2017), percorre as formas de representação da Virgem Maria na história da pintura.