21 Mai 2014 0:59
A cineasta japonesa Naomi Kawase, revelada em Cannes, na edição de 1997, com "Suzaku" (título vencedor da Câmara de Ouro) tem um especial fascínio pelos elementos naturais. Entenda-se: não através de qualquer estética de "postal ilustrado", antes celebrando a Natureza como dimensão vital da identidade humana e espaço de revelação das suas energias mais íntimas.
Assim volta a acontecer em "Still the Water", filme cuja singularidade visual e emocional pode vir a garantir-lhe algum lugar no palmarés desta edição de Cannes. Trata-se, neste caso, de observar as atribulações de uma pequena comunidade da ilha de Amami, numa dialéctica em que os contrastes naturais — tufões "versus" momentos de serena beleza — parecem exprimir, como um eco simbólico, as próprias vivências humanas.
Certamente não por acaso, os dramas narrados por Kawase arrastam as mais diversas tensões entre novos e velhos — estamos também perante uma lógica de aprendizagem, por assim dizer, pontuada pelos estados de alma do oceano. E não é secundário que a direcção fotográfica de Yutaca Yamazaki (colaborador regular de Hirokazu Kore-eda) consiga algumas proezas impressionantes, em particular nas cenas do fundo do mar.