joao lopes
28 Out 2016 3:08
Nos últimos anos, o menos que se pode dizer da relação dos estúdios da Marvel (e também da DC Comics) com as linguagens cinematográficas é que não tem sido um prodígio de felicidade criativa… Bem pelo contrário: o endeusamento da tecnologia retirou a muitos filmes de "super-heróis" a simples e honrosa capacidade de contar uma história.
Com "Doutor Estranho", apesar de tudo, sente-se que algo muda. Sem dúvida porque o misto de ciência & misticismo da personagem central é preservado com algum rigor, mas também porque não é todos os dias que um actor como Benedict Cumberbatch (popularizado através de um herói muito mais clássico: Sherlock Holmes, na série televisiva "Sherlock") é convocado para uma tarefa deste teor.
Como sempre, a personagem central é alguém cuja identidade vai ser testada através de um conjunto de desafios que atinge o núcleo da sua existência social. Dito de outro modo: Strange é um renomado neurocirurgião que vê toda a sua vida posta em causa por causa de um grave acidente que destrói a agilidade das suas mãos… Em contacto com outros mundos de percepção, ele vai encontrar o espírito de uma nova missão.
Para além da qualidade da composição de Cumberbatch, este é também um filme que, por uma vez, não se entrega de forma preguiçosa à acumulação de cenas (ditas) de acção que se resumem a explosões e prédios a cair. Há, de facto, um trabalho figurativo (nomeadamente nas "contorções" da paisagem urbana) que se distingue por uma energia muito própria — e não será surpreendente que "Doutor Estranho" esteja na linha da frente para arrebatar o Oscar de melhor efeitos visuais.