joao lopes
29 Abr 2018 0:50
Do cinema italiano, apesar de tudo, vamos tendo notícias… E não apenas dos títulos (como "A Grande Beleza") que, devido aos prémios obtidos, adquirem uma maior visibilidade internacional. Tais notícias garantem-nos, pelo menos, que continua a haver em Itália quem se mostre empenhado em preservar e, de algum modo, reinventar a preciosa herança do melodrama familiar.
Assim acontece com Gabriele Muccino. Paradoxalmente, o seu nome será associado, sobretudo, a alguns títulos em língua inglesa que já dirigiu, com destaque para "Em Busca da Felicidade" (2006), protagonizado por Will Smith. O certo é que com "Cá Por Casa Tudo Bem" ele se assume como herdeiro directo de autores como Dino Risi ou Luigi Comencini, que tão bem souberam colocar em cena as contradições internas do espaço familiar.
Matéria fundamental é, como sempre, o trabalho dos actores. E com uma simbólica presença de figuras tão lendárias como Sandra Milo ou Stefania Sandrelli. Sem esquecer, claro, toda uma galeria de gente mais jovem e muito talentosa, incluindo Stefano Accorsi, Elena Cucci, Pierfrancesco Favino, Giampaolo Morelli ou Valeria Solarino.
Trata-se de encenar a atribulada comemoração dos 50 anos do casal que lidera a família, numa reunião cuja ligeireza se vai ramificando em pequenos dramas assombradas por perversas mentiras. É verdade que "Cá Por Casa Tudo Bem" oscila entre subtileza e esquematismo, ficando distante das qualidades dos modelos em que se inspira; mas não é menos verdade que uma prática cinematográfica que não desiste da memória merece sempre algum respeito.