joao lopes
10 Mar 2016 14:15
Acontece aos melhores… E é pena que, num caso como este, estejamos perante um elenco que inclui gente tão talentosa como Benoît Poelvoorde, Catherine Deneuve e Yolande Moreau. De facto, ter uma "ideia" sugestiva, mais ou menos bizarra, mais ou menos burlesca, pode ser um bom ponto de partida, mas nem sempre basta para sustentar as estruturas que um filme exige.
"Deus Existe e Vive em Bruxelas"
é mesmo aquilo que o título resume. Dito de outro modo: "Deus", interpretado pelo esforçado Poelvoorde, é uma pessoa mais ou menos burlesca que se lembrou de criar Bruxelas, por tédio, depois de criar o mundo todo… Através do seu computador, diverte-se (mas não muito, porque parece andar muito deprimido) a importunar o dia a dia dos pobres humanos…
Acontece que tudo se baralha quando a filha da divindade, uma miúda sem nada de especialmente transcendente, altera os programas do computador… Enfim, digamos que, a partir daí, o filme vai colando episódios que se pretendem mais ou menos cómicos em torno de uma galeria de personagens que serão os "novos apóstolos"…
Estamos perante uma colecção de anedotas ligeiras que funcionam como curtas-metragens não muito tocadas pela imaginação, para mais tentando canalizar uma "mensagem" redentora e libertadora. Em boa verdade, o realizador belga Jaco van Dormael sempre explorou este tipo de "simbolismos" pueris, mais ou menos sugestivos — lembremos "Totó, o Herói" (1991), premiado com a Câmara de Ouro de Cannes. Desta vez, limita-se a ser ainda mais maniqueísta do que nos filmes anteriores. Com a melhor das boas vontades, importa reconhecer.