Desenhos da fábrica Pixar: as cinco emoções em diálogo, algures no cérebro de Riley


joao lopes
19 Jun 2015 10:08

É bem verdade que, desde essa revelação admirável que foi "Toy Story" (1995), os estúdios da Pixar se impuseram como uma referência de renovação e experimentação no mundo dos desenhos animados — desde logo, através da consagração das técnicas digitais. O certo é que, em tempos recentes, em especial através de algumas sequelas ("Carros 2" e "Monstros: a Universidade", respectivamente de 2011 e 2013), a sua energia parecia estar bloqueada…

Aí está "Inside Out" para contrariar tal perspectiva. Não creio que, no plano estrito do desenho, o filme tenha a riqueza de títulos anteriores — incluindo, claro, o emblemático "À Procura de Nemo" (2003) —, mas o certo é que se confirma, aqui, uma regra vital: para além (aliás, antes) da própria concepção visual, é decisivo o trabalho de argumento.
O filme dirigido por Pete Docter — o mesmo de "Monstros & Cª." (2001) e "Up – Altamente" (2009) — possui, antes de tudo o mais, uma originalíssima ideia de argumento. A saber: a encenação das atribulações da pequena Riley (com voz da magnífica Amy Poehler) a partir das cinco emoções — Alegria, Tristeza, Medo, Desgosto e Raiva — que habitam o seu cérebro.
Quer isto dizer que somos envolvidos numa aventura que, como o título original sugere, se passa num ziguezague entre o "dentro" e o "fora" (sugestão que a opção portuguesa, "Divertida-mente", está longe de abarcar). Nesta perspectiva, pode dizer-se que a Pixar conseguiu produzir uma fábula bem enraizada nos tempos que correm: tudo se passa a partir do universo familiar, mas cada ser existe como um programa de computador… Como em qualquer fábula, o humor contagiante combina-se com uma subtil inquietação.

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