joao lopes
6 Mar 2015 16:00
É bem verdade que, ciclicamente, assistimos a tentativas mais ou menos revivalistas de recuperar as matrizes do western — afinal de contas, Danças com Lobos, de Kevin Costner, até ganhou os principais Oscars de 1991 (incluindo o de melhor filme). O certo é que tais tentativas envolvem sempre um misto de nostalgia e desencanto: sentimos que o velho Oeste já só pode regressar como uma espécie de utopia que ficou por cumprir.
Assim acontece com "Um Dívida de Honra" (título original: "The Homesman"), segundo trabalho de realização de Tommy Lee Jones — estreara-se em 2005 com "Os Três Enterros de um Homem", uma história contemporânea, embora já muito marcada pelos temas morais do western.
Por um lado, Jones dá provas de um claro fascínio pelas ambiências clássicas do western, em particular através da sofisticada direcção fotográfica do mexicano Rodrigo Prieto. Por outro lado, ao adaptar um romance de Glendon Swarthout, procura superar as regras clássicas do género, sobretudo através de uma dimensão feminina pouco comum nos títulos mais tradicionais.
Esta é, assim, a aventura de um homem errante (interpretado pelo próprio Jones), mobilizado por uma mulher singularmente independente (Hilary Swank) para, com ela, conduzir três outras mulheres, marcadas por problemas mentais, a um distante local de acolhimento.
É pena que a visão de Jones se apresente limitada por uma retórica em que, não poucas vezes, sentimos que um certo exibicionismo formal tende a ser mais valorizado do que as peripécias do próprio drama. Seja como for, "Uma Dívida de Honra" fica como sintoma de uma atitude enraizada na (re)valorização das mais genuínas memórias cinéfilas.
Isto sem esquecer que Jones sabe, naturalmente, dar espaço aos actores — e, sobretudo, às actrizes — para comporem as suas personagens com especial detalhe e delicadeza. Além de Swank, não esqueçamos também que, num pequeno papel, aqui encontramos também a sempre impecável Meryl Streep.